Uso sem necessidade pode provocar problemas cardiovasculares e dependência psicológica
O uso de medicamentos para disfunção erétil, como Viagra (sildenafila), Cialis (tadalafila) e Levitra (vardenafila), tem crescido entre homens de diferentes idades – inclusive entre jovens sem diagnóstico clínico de impotência.
Em 2024, o genérico do tadalafila foi o quinto remédio mais vendido no Brasil, com mais de 61 milhões de unidades comercializadas, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos). Já no primeiro semestre de 2025, um levantamento realizado pela Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac) revelou que o medicamento tomou o posto de quarto remédio genérico mais vendido no país, com quase 22 milhões de caixas adquiridas.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre o uso recreativo dessas substâncias, ressaltando que esse consumo indiscriminado pode causar consequências graves, como infarto, AVC, queda na pressão e até dependência psicológica.
Como funcionam esses medicamentos
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), essas substâncias atuam sobre uma enzima chamada fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), responsável por interromper o mecanismo natural de ereção. Ao inibir essa enzima, os remédios facilitam a entrada e a manutenção de sangue no pênis, permitindo que a ereção se sustente durante o estímulo sexual. Os efeitos, no entanto, só ocorrem mediante estímulo, ou seja, não provocam ereção espontânea nem aumentam o desejo sexual.
Efeitos colaterais mais comuns
Embora seguros quando usados sob prescrição, esses medicamentos podem causar algumas reações adversas, que incluem dor de cabeça, vermelhidão no rosto, indigestão, congestão nasal e tontura. “O rosto pode ficar avermelhado, como se o paciente tivesse feito atividade física, e é comum o nariz ficar entupido ou escorrendo. Algumas pessoas também sentem dores musculares nas pernas ou nas costas, o que pode levar à interrupção do tratamento” revela Mark Neumaier, urologista dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru.
Segundo o NHS, cerca de 12% dos usuários apresentam algum efeito colateral significativo, mas apenas 3% pausam o tratamento por esse motivo.
Riscos para a saúde física e psicológica
O urologista alerta que o uso indiscriminado e frequente, sem orientação médica, pode trazer riscos além dos efeitos físicos. “Muitos homens recorrem ao medicamento por insegurança antes de uma relação. Isso pode aumentar a ansiedade e até comprometer o desempenho. Quando o paciente acredita que só terá um bom desempenho com o remédio, acaba ficando preso à substância”, afirma.
A cautela deve ser ainda maior entre pessoas com problemas cardiovasculares, já que a combinação de medicamentos para disfunção erétil com remédios à base de nitratos, usados no tratamento de angina, por exemplo, pode causar queda perigosa na pressão arterial. “É fundamental ter cuidado redobrado com pacientes cardíacos, especialmente aqueles que passaram por angioplastia nos últimos meses. A interação pode causar complicações graves”, reforça Neumaier.
Importância da orientação médica
O acompanhamento médico é indispensável para avaliar a real necessidade e ajustar corretamente a dosagem. O tratamento deve, desde o início, ser monitorado por um urologista e deve ser realizado apenas pelas pessoas que realmente necessitam. “Qualquer medicamento, até mesmo os mais simples, deve ser prescrito por um profissional que conheça os riscos. O médico deve acompanhar e orientar o paciente, ajustando a dose para evitar qualquer contratempo e prevenindo a dependência psicológica”, detalha o especialista.
Embora o uso seja indicado apenas com prescrição médica, esses medicamentos ainda podem ser adquiridos sem receita médica. “Com isso, muitos homens têm recorrido ao uso recreativo, buscando ‘turbinar’ a ereção,” pontua Neumaier.
Alternativas não medicamentosas
Em muitos casos de disfunção erétil, mudanças no estilo de vida podem melhorar o quadro sem a necessidade de medicamentos. “Uma boa comunicação com a parceira é fundamental, especialmente quando a causa é emocional. Já nas causas vasculares, é essencial praticar atividade física, manter uma alimentação equilibrada e controlar a pressão e o diabetes”, afirma o urologista.
Ele destaca ainda o papel da fisioterapia pélvica e dos exercícios específicos para a região, que têm mostrado bons resultados. “Essas abordagens fortalecem a musculatura e contribuem para a recuperação do desempenho sexual”, finaliza.
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